Toxidade da cerâmica


Artistas, artesãos, e, principalmente, operários que trabalham nas atividades cerâmicas, podem estar sujeitos a algumas “doenças” decorrentes a falta de higiene e proteção, que  acarretam ao longo dos anos graves problemas de saúde.

Estas doenças estão, hoje, quase que afastadas das fábricas e ateliês, porém, já foram motivo de grande preocupação das autoridades da saúde pública. Mas ainda existem alguns casos isolados que são motivados pela falta de cuidados dos usuários de produtos e subprodutos minerais.

As “doenças do trabalho” que merecem atenção especial do ceramista são as intoxicações por metais pesados, tendo o chumbo no topo da lista, que causa o Saturnismo e outros metais usados em forma de pigmentos para dar cor a esmaltes e vidrados ou massas cerâmicas. Logo vêm os problemas, considerados mais graves, causados pele  respiração de pó de Sílica (quartzo) em suspensão no ar que provocam a Silicose.

Felizmente o Saturnismo pode ser facilmente curado, às vezes  com o simples afastamento da pessoa doente do lugar de trabalho ou ambiente poluído. Nos casos mais leves em prazos de 60 dias até 120 dias a cura acontece pela eliminação do chumbo de forma natural. Em casos com níveis de intoxicação acima de 60 mcg de chumbo no sangue, ou na urina, pode ser necessário um tratamento mais enérgico com medicamentos específicos, como, por exemplo, a aplicação de E.D.T.A.  e outros que somente um médico especializado fará a indicação.

A intoxicação por chumbo pode acontecer por contato na pele quando houver alguma ferida que permita a entrada do metal na mucosa celular, sendo falsa idéia que o simples contato com a pele, pelos poros,  pode provocar alguma introdução do chumbo no organismo humano.
Os casos mais comuns são provocados pela inalação dos gases durante a queima dos esmaltes que contem este metal como fundente, principalmente os chamados esmaltes de baixa temperatura usados na cerâmica porcelana e vidro.

Por tal motivo todos os fornos devem ter uma chaminé com exaustão, ou coifa, externa para eliminar todos os gases na medida que são gerados dentro do forno. Estes gases serão dissipados rapidamente na atmosfera sem qualquer inconveniente para o meio ambiente.
Os gases de chumbo não têm cor nem odor, passando desapercebidos para o operador do forno e as pessoas que possam estar trabalhando no local. Qualquer fumaça ou cheiro expelido pelo forno é proveniente das matérias orgânicas contidas no produto a ser queimado e nos  veículos oleosos utilizados.

Ainda que possa haver uma aspiração pelo nariz e boca de pós que contenham chumbo, este dificilmente se alojará no organismo, a menos que sejam partículas inferiores a 4 micras (microscópicas) e que poderiam se introduzir pelos alvéolos  dos pulmões e chegar ao sangue.
O chumbo pode ser acumulado nos ossos em uma troca com o cálcio, sem ocasionar qualquer sintoma, porém por metabolismo pode “voltar” à torrente sanguínea e começar a ocasionar danos  em órgãos vitais, atingindo o sistema neurológico, podendo provocar paralisias motoras, às vezes irreversíveis. Pode se alojar no sistema muscular, principalmente no coração provocando miocardite, ou no fígado e rins, afetando o funcionamento normal destes órgãos  e dores generalizadas no corpo, cólicas, náuseas, cefaléias e outras manifestações, como a sensação de doçura na boca.

Os primeiros sintomas do Saturnismo  são semelhantes a muitas outras doenças. É comum o corpo humano ter índices de chumbo em torno dos 20 mcg, sendo considerado caso de alerta médico quando ultrapassa os 40 mcg, e acima dos 60 mcg. é caso grave necessitando de cuidados e tratamentos especiais.

É conselhável a pessoas que usam produtos com chumbo, realizar uma consulta médica anual para que o profissional avalie a necessidade de outros exames para determinar a existência ou não de chumbo no organismo.

Porém, os médicos especialistas hoje em dia dizem que é muito difícil a possibilidade de uma pessoa que pratique atividades cerâmicas corra riscos de intoxicação se tiver os mínimos cuidados de manuseio e higiene dentro de seu ateliê, principalmente NÃO comer, beber e fumar sem antes lavar as mãos e os objetos ou vasilha com que há de se servir, e usar sempre máscara e luvas de proteção.

Nunca realize limpeza do piso sem antes molhar com muita água  para evitar “levantar a poeira”.
Utilize sempre de panos úmidos para  limpeza de mesas, objetos e peças.
Esse risco é muito menor no uso de vasilhas (xícaras, pratos, etc.) que foram decorados com esmaltes que contenham chumbo, ainda que usadas com alimentos e bebidas ácidas. Não sendo válido, do ponto de vista patológico, os “testes” realizados com “alquimia de enxofre”.

Vários  produtos em forma de  óxidos, carbonatos, cloruros, fosfatos, etc...,  muito utilizados nas artes do fogo são potencialmente “perigosos” se manuseados de forma aleatória com falta dos  cuidados básicos necessários como em qualquer outra atividade, tais produtos como: Cádmio, Selênio, Bário, Cromo, Cobalto, Cobre, Lítio,  Sódio, Arsênico, Bismuto, Berilo, Zinco, e tantos outros, podem causar problemas de saúde, geralmente crônicos, pela acumulação dos tóxicos durante certo tempo. Os casos agudos são muito raros e muitas vezes fatais ou ficam seqüelas graves pelo resto da vida.

Além das possíveis intoxicações com metais pesados existe uma outra possibilidade de risco de uma doença, esta sim muito grave e irreversível que é a SILICOSE,  provocada pela inalação da sílica em suspensão, quer seja no manuseio de matérias-primas durante a preparação de esmaltes e massas cerâmicas ou na aplicação e uso dos mesmos, já que todos contem, em menor ou maior quantidade o quartzo como elemento principal.

Todos sabemos que a simples argila contem teores elevados de quartzo e os caolins ainda mais. O feldspato e o talco podem conter até 80 por cento de sílica em forma de quartzo.
Quando aparecem os primeiros sintomas de Silicose, tais como cansaço com falta de ar  ou dificuldade de respirar, o processo tornasse incurável, ainda que a pessoa seja afastada do meio que provocou o problema.

A poeira dos produtos que contenham quartzo são nocivas e perigosas, até as partículas maiores de 4 micras podem se alojar nos pulmões, obstruindo os alvéolos e provocando uma fibrose com endurecimento do corpo esponjoso diminuindo sua capacidade de alojar o ar respirado, reduzindo assim a resistência respiratória e física da pessoa. Existe, ainda, a possibilidade que a pessoa doente possa desenvolver um ou vários tumores malignos nos pulmões, agravando mais o problema.   

Qualquer produto que contenha quartzo, até o aparentemente inofensivo talco infantil (Silicato de magnésio),  pode provocar Silicose se utilizado de forma inconveniente, sem os princípios básicos de proteção com uma máscara ou protetor que seja realmente eficaz na retenção das partículas mais finas, além das mais grossas. Um lenço ou uma máscara simples, pode minimizar o problema, adiando os sintomas, já que será incapaz de evitar a passagem dos grãos mais finos, que são os que estão em maiores quantidades e com maiores facilidades de se introduzir pelo aparelho respiratório.

A ingestão acidental de quartzo não produzirá qualquer problema além de algum incomodo digestivo e será facilmente eliminado pelo trato intestinal.
Hoje é muito comentada a possibilidade da Fibra Cerâmica poder ocasionar doenças e até tumores malignos nos pulmões ou na pele. Porém a forma utilizada nos fornos modernos, como isolamento térmico de alta eficiência, não apresenta qualquer risco a saúde do ceramista, como, também,  não há qualquer registro de ocorrências destas doenças nas fabricas de Fibras Cerâmicas em todo o mundo, ou entre os operários das fabricas de fornos que utilizam este produto, e muito menos entre os clientes que compraram estes equipamentos para queimar cerâmicas.

As possibilidades do usuário do forno contrair uma Silicose é muito remota, quase que impossível, já que não há qualquer “volatilização” ou desprendimento em suspensão do produto no ambiente do forno ou do ateliê.

Existe  maior perigo de sílica em suspensão nas fabricas de fornos de tijolos, e, consequentemente nos fornos antigos de tijolos, que nas fabricas e nos fornos de Fibras Cerâmicas.

Algumas pessoas são alérgicas a muitos produtos que estão presentes nos ambientes de seu dia a dia e, consequentemente,  poderão apresentar quadros de alergia em contato ou na proximidade da Fibra Cerâmica, porém nada mais que uma simples alergia, principalmente de pele.
Devido a Fibra Cerâmica ser um produto com contem sílica, pode existir a possibilidade de alguém manusear estas fibras de forma inadequada (cortando, desfiando, etc.) sem a proteção necessária e estar sujeita a uma silicose, da mesma forma que alguém manuseie inadequadamente qualquer outro produto que contenha sílica, reiterando, até o simples e inocente talco infantil, que hoje é desaconselhado pelos médicos pediatras para seu uso na forma “antiga”,  com verdadeiros banhos pelo corpo todo dos bebezinhos, formando uma nuvem de sílica em suspensão no ambiente  e que era respirada por varias horas.

A pesar dos riscos, todos conhecidos e possíveis de controlar,  a cerâmica é uma atividade extremamente agradável, até terapêutica, e compensatória, tanto na parte econômica, quanto na artística.

Recentemente foi amplamente divulgada a noticia do Leilão de uma peça de porcelana da dinastia Ming  por um valor maior que cinco milhões e meio de dólares. A composição da peça  contem sílica como também nos esmaltes, além do chumbo e de vários outros óxidos de metais pesados para obter uma decoração tão rica com vermelhos, púrpuras, verdes e dourados, tudo queimado.


Com certeza o artesão que fez aquela maravilhosa peça, desconhecia todos os problemas inerentes aos produtos por ele utilizados, mas temos certeza que deve ter morrido de velho e feliz por ter sido na vida um simples ceramista.
Autor: Carlos S.E.P. de Carvalho Fonte

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