O uso e a contemplação


Moringa de Barro"Bem plantada. Não caída acima, surgida embaixo. Ocre, cor de mel queimada. Cor de sol enterrado há mil anos e desenterrado ontem. Frescas listas verdes e alaranjadas cruzam o seu corpo ainda quente. Círculos, sanefas; restos de um alfabeto dispersado? Barriga de mulher grávida, pescoço de pássaro. Se tampas e destampas a boca com a palma da mão, te responde com um murmurar profundo, borbulhão de água que jorra; Se golpeias a pança com os nos dos dedos, solta uma risada de moedinhas de prata caindo sobre as pedras. Tem muitas línguas, fala o idioma do barro e do mineral, do ar a correr entre os muros da canhada... da chuva.  Vasilha de barro cozido: não a coloque na vitrine dos objetos raros. Resultaria em um mal papel. Sua beleza está aliada ao liquido que contem e a sede que sacia. Sua beleza é corporal; vejo-a, toco-a, cheiro-a, ouço-a. Se está vazia, deve-se enche-la; se está cheia, deve-se vaziá-la. Tomo-a pela asa torneada como a uma mulher pelo braço. 

Levanto-a, inclino-a sobre uma jarra onde despejo o leite ou "pulque" - líquidos lunares que abrem e fecham as portas do amanhecer e do anoitecer, o despertar e o dormir. Não é um objeto para ser contemplado, mas para dar a beber."                                                                                                                                                      
                                                                  Fragmento de um texto de Octavio Paz

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